Österreich - Tirol

Hallo
Aqui me encontro em mais uma desventura, como diria um conhecido meu.
Austria - Tirol, este é o novo palco.

Tudo esta coberto de neve, parece que a natureza resolveu decorar o cenário para o natal, que aliás se comemora de um modo muito diferente do estilo brasileiro. Os austríacos se preparam para o natal como o brasileiro se prepara para o carnaval. Enquanto aqui a festa é religiosa, no Brasil a festa é carnal.

Cada dia para mim é um desafio.

Agora vejo como o ingles é fácil comparado com estes Ä - Ö - Ü e outras excentricidades germanicas.
Espero nao demorar muito para que eu possa comprar pao como uma simples tarefa diária, sem parecer que sou um extraterrestre perdido no Tirol.

Tento nao deseperar-me quando fico tentando pronuciar Öl sem sucesso. Como pode uma palavra tao pequena ser tao dificil de pronuciar. Daí o ego comeca a sentir-se ferido e para acalma-lo eu digo a mim mesma: seja humilde, quando voce nasceu nem portugues voce sabia falar!

Outro desafio: enfrentar o frio. Eles se divertem na neve, eu fico parecendo uma múmia, toda encolhida de frio, tentando convercer a mim mesma que o frio é uma sensacao psicológica. Mero engano, pois passado uns minutos os dedos do pé comecam a arder de frio. Entao eu paro com a auto-afirmacao e passo a seguinte tática; resignacao.

Por hoje é só. Bis Später.

(desculpem a falta de acentuacao)

Bye Bye Brasil

Aqui estou, Brasília. Foi tudo tão de repente.
A vida é realmente mágica. Nunca imaginei visitar esta cidade.
Cheguei ontem e me sinto em casa. Marina é um Ser iluminado.
Sinto uma paz, uma harmonia, acho que a casa dela é um tipo de universo paralelo:

Todos os dias um beija-flor vem ofertar um espetáculo de beleza e leveza.
A festa nupcial da primavera nas flores do jardim, a cadela Frida, que de tão amorosa até parece um desrepeito tratá-la por cadela.
A Fran, uma maranhense estilo Pocahontas, tímida e alegre, que nos prepara a comida.
Os cristais, as figuras de Krhisna.
Tudo ao redor cria um ambiente acolhedor.
Nada melhor poder sair um pouco de SP antes de deixar o Brasil para renovar as energias.
Eu já estava entrando em parafusos, pois a ansiedade da partida é enorme.
E a vontade de encontrar o Philip já não cabe nos limites corporais, está se esparramando feito copo transbordando.
Até domingo estarei aqui e espero ter boas coisas para contar.
Agradeço a oportunidade de conhecer Brasília através da Marina.

Hare Krhisna Hare Krhisna
Krhisna Krhisna
Hare Hare
Hare Rama Hare Rama
Rama Rama
Hare Hare

O absurdo nosso de cada dia

Também do meu diário de 2005. Na época estava lendo muitas coisas sobre o existecialismo de Sarte e Camus.
Encontrei uma passagem que transcrevi de algum livro que trata da obra de Albert Camus. Infelizmente não anotei o nome do livro, mas pelo menos tenho esta pequena nota:


"Este estado de fusão, de união plena e comunhão é efêmero, pois cedo é o despertar da consciência e com ela o conhecimento e a lucidez;
'Eis que a cortina dos hábitos, a trama confortável dos gestos e das palavras se levanta lentamente e descobre enfim, a face lívida da inquietação.
O homem está frente a frente consigo mesmo.
Desafio a ser feliz. Estabelece-se entre ele e as coisas um grande desacordo.'

O absurdo é cotidiano, só que é preciso tomar consciência dele. O hábito de viver é anterior ao hábito de pensar. Neste sentido a descoberta do absurdo já uma vitória. importa, pois, perseguir essa lucidez."

Parece extranho que o cotidiano leve em si o absurdo, mas é só parar um pouco, respirar e prestar atenção, por detrás desta película invisível do comum e do normal, o absurdo espera.
Ele nos ronda a cada instante, nos persegue, mas não como algo a ser rejeitado. Abraço o absurdo. Talvez assim ele me traga um pouco mais de sentido.



Desejo primario

Hoje, quando fui esquentar leite, ao derramá-lo na panela, fiquei admirada com a brancura e a consistência daquele liquido. E pensei: existem tantas coisas no mundo para serem degustadas, aproveitadas, compartilhadas.
Cogitei a possibilidade de o leite nunca ter existido.Talvez não me fizesse falta alguma, pois eu não posso lamentar o que nunca perdi, mas é aí que está: a existência do leite e de outras coisas, além de me saciar a fome me faz cobiçar coisas além das que já existem. E com isso começo a desejar algo mais.
Não me contento apenas com o leite, quero leite com chocolate, com café, com pão, bolacha, quente, gelado, morno, de caixinha, de vaca e por aí...
O leite foi a primeira coisa que eu desejei, minha primeira cobiça. Depois eu quis dormir, defecar, urinar. O frio foi meu inimigo mais cruel, a fome, a cólica.
Tudo o que temos ao nosso redor nos trás a confortável ilusão de estarmos seguros. Afinal, temos tudo ao nosso alcance.
São tentativas incoscientes para esquecer que a única certeza que temos é que nossas forças se desfazem continuamente, que a morte exige muito mais que a própria vida, sendo a vida uma preparação para a morte.
Daqui da mesa redonda, sentada em uma cadeira dura, ouviando o barulho do tempo se esvair, seguro a xícara que comprei na Espanha com uma reprodução do Guernica, uma boa imagem para o que acabo de pensar.

Texto revisitado de 2005

Festa de Babette - Um artista nunca é pobre

"Na sua fraqueza e miopia o homem acha que tem de fazer uma escolha na vida e teme o risco que corre.
Nós conhecemos o medo, mas não, toda escoha é sem importância.
Chegará a hora em que nossos olhos se abrirão e finalmente reconheceremos que a graça não tem fim.
É só esperar que confiante para receber a gratidão.
A graça não exige nada.
E veja, tudo que escolhemos nos foi dado e tudo de que desistimos nos foi concedido.
Sim, ainda teremos de volta o que jogamos fora.
Piedade e verdade se unem.
Justiça e paz se abraçarão."

Discurso do general durante o jantar

Philip



Mañana de luz tibia y calor tímido.

Otoño: decreptud que adelanta y prepara un nuevo início.

Aquellos caquis dulces anaranjados,
cogidos por tus manos directamente del árbol, me trajeron en la boca el gusto del paraíso.

Poco a poco los nidos de las golondrinas se deshacen, seguiendo la lógica de la vida.

Las hojas caen, sin resistencia al viento y a la gravedad atraente, con la consciencia tranquila, pues saben que su papel ha sido cumplido.

Ensinan silenciosa y humildemente algo de lo que los Hombres olvidaron.

Yo, dejo el outoño, como los pajaros, voy en tu dirección, para el calor de tu afecto.



Bem vinda, vai e vem

Geovanna nasceu
Tudo vai bem
Daqui a pouco eu vou
Espero que tudo siga bem

26 anos

Não tem coisa mais linda na vida que ter pessoas lindas na nossa vida!
Receber uma ligação surpresa no dia do aniversário de alguém distante: obrigada Jana.
Receber uma flor de papel de um sobrinho pentelho de 3 anos de idade: obrigada Pedro.
Ou receber um verso, criado só para você. Obrigada Maê.


Preparativos de viagem


Para Juliana




Nesta vida, a única coisa que me interessa é um disquinho de jazz.



Deixei os sapatos do lado de fora,
Deixei as roupas na soleira da porta,
Deixei as lembranças saírem pela janela,
junto com passarinhos que estavam na gaiola.

Agora não há mais nada: o viajante caminha bem melhor sem suas trouxas.

Alarme falso

São quase ás 20 hs, há uma hora minha irmã, Ariane, que está grávida, começou a sentir dores. Todos estão nervosos e eu estou insistindo para que ela vá logo ao hospital!
Coincide que hoje é aniversário do meu vô Amadeu.
Eu estava bem tranquila assistindo o filme "O curioso caso de Bejamin Button". Estava em uma passagem muito bonita do filme e acho que combina com a situação. O protagonista envia uma carta a sua filha em que diz:

" Nunca é tarde demais para ser quem você quer ser. Não há limite de tempo. Comece quando quiser. Mude ou continue sendo a mesma pessoa. Não há regras para isso. Pode tirar o máximo proveito. Espero que veja coisas surpreendentes. Espero que sinta coisas que nunca sentiu antes. Espero que conheça pessoas com ponto de vista diferente. Espero que tenha uma vida da qual se orgulhe. E se não se orgulhar dela, espero que encontre forças para começar tudo de novo."

Mas foi um alarme falso. Pouco tempo depois a Ariane voltou para casa. Acho que a Geovana ainda está juntando forças para fazer parte desta vida!

Eu, ser sem estar

Aventureira, sonhadora, louca, perdida.
Minha trajetória nos últimos seis anos, desde que com toda minha ingênua e insegura vontade de ser alguém, deixei pela primeira vez a segurança do "lar", tem sido de mudanças, tanto geográfica como espiritualmente.
Muitas coisas se passaram, conheci muita gente, conheci e aprendi muitas coisas e assim continua sendo.
Logo mais seguirei outra aventura e não posso negar que sigo sentindo o mesmo medo e a mesma inseguranca semelhante a primeira vez que parti rumo ao desconhecido.
O importante é não deixar o medo me paralizar. Afinal, qual é a pior coisa que pode ocorrer?
Ser sem nunca estar, viver como cigana, um dia aqui e outro acolá. Tenho laços, mas eles não me atam, ao contrário, fazem com que eu esteja livre para voltar.
O tempo vai definir qual a moral da história.

Ultreya

Memórias resgatadas

Caderno III

No ócio
No cio
No início

Lendo Clarice:
Eternidade
É não ter idade
Continuidade

Tenho entre minhas pernas uma planta carnívora.
Ela sangra durante cinco dias.
Um inseto vem sugar seu fluído nutritivo.
Ele pareceu se fartar.
A planta se revigorou, está pronta para mais uma ciclo de vida.

Sou insetos que rodopiam lâmpadas envoltas em lustres transparentes.
Iludo-me achando que o calor que me aquece vem diretamente de ti.
Não consigo distinguir a barreira que nos separa, pois giro apaixonadamente a sua volta, para me proteger, apenas.

O foi e o será são transmutações do É.
O É se renova e se desfaz, sendo sempre o mesmo.
Eu sou um corpo em constante martírio, um corpo que não silencia nunca, um corpo que coça, arde, sangra, cheira, cansa, dói, enfim, sou algo que sente e que pensa sobre este sentir.
Há duas coisas que eu sou incapaz de fazer: não pensar e não sentir.
Agora eu senti um leve arrepio no braço esquerdo. Tenho sono e fome.
Ouço o som da chuva e o ruminar do meu estômago vazio que parece um gato preguiçoso.

Sou um dia de sol de verão com nuvens carregadas.
Sou uma indecisão.
Sou um instrumento quieto e desafinado a espera de alguém que venha carinhosamente ajustá-lo, até que uma melodia doce e calma exale de mim.


Sinto um leve arrepio pelo corpo.
Um sussurro ultrapassa a alma.
Uma sensação fluída de gozo. Desejos pelos espaços que há entre nós.
Quando um corpo possui o corpo, a alma se eleva.
Subamos, subamos.





Memórias resgatadas

Caderno II

Preciso organizar meus sonhos na prateleira da vida.
Vai que alguém resolva pegar sem me consultar!
Ou até mesmo roubar. Mas aí já é demais!
Cada um deve ter o seu e deixar o meu conservado de traças, poeiras e dissoluções.

Eu deveria ter levantado,
pego uma caneta e anotado
do começo ao fim
letra por letra
sem tirar ou pôr.
Deveria ter escrito
na tua frente
de modo que depois
nem você pudesse negar
que naquela noite
sussurrastes em meus ouvidos:
que eu sou uma estrela.


Chute a bola
contra a parede
Como se ali
estivesse a rede.

Eu preciso saber como se faz para observar os Homens do alto.
Como se chega a altura?
Qual é o caminho?
Por que eu quero ver os Homens do alto?
Como eu posso ter certeza de que estarei vendo-os do alto?

Teve uma crise psicótica!
Gritou, esbravejou e chorou.
Chorou porque as angústias não cabiam mais em seu corpo.
As lágrimas eram a tristeza pálpavel.
Quis ser pintora, pintar sua vida.
Ser artista de sua própria existência.
E de todas as cores encontrar aquela que possua a beleza de uma flor.






Memórias resgatadas

Caderno I

Inofensivo,
alvo e leve.
Assim como uma folha de papel.
Cortou-me, quando nele tentei escrever uma história.



Toda minha pele exala desejos, vontades, ansiedades.
Socorro!
Algo que me contente. Há?
Sustente, satisfaça.
Estou confusa.
Tantas palavras para dizer.
Tantas sensações entrando pelos meus olhos.
Tudo me faz desejar.
Será a idade?
O tempo?
A situação?



Divagar
vagarosamente
em lembranças vagas
que vagam na mente.


O que as pessoas querem ouvir falar?
O que dá prazer ler?
Sobre amor, sexo, política, tragédia?
Que tal falar sobre o riso?
Sobre o olho no olho.
Sobre a afirmação pessoal.
Talvez usar a alegoria de um palhaço.
O valor dos sentidos e o exagero da racionalização.


Apaguem a luz da minha existência racional.
Ela está ocultando a beleza da sensação.






Digestivo


Pra esta quarta-feira de frio sem teu calor.


Um hemisfério numa cabeleira



Deixa-me respirar longamente, longamente, o cheiro dos teus cabelos, mergulhar neles todo o meu rosto, como um homem sedento na água duma fonte, e agitá-los com a mão como um lenço perfumado, para sacudir recordações pelo ar.


Se pudesses imaginar tudo o que vejo! tudo o que sinto! tudo o que ouço nos teus cabelos! Minha alma viaja no perfume como a alma dos outros viaja na música.


Teus cabelos encerram todo um sonho, povoado de velas e de mastros; encerram grandes mares, cujas monções me conduzem a maravilhosos climas, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera é perfumada pelos frutos, as folhas a pele humana.


No oceano da tua cabeleira entrevejo um porto formigante de canções melancólicas, de homens vigorosos de todas as nações, e de navios de todas as formas, cujas arquiteturas finas e complicadas se recortam num céu imenso onde se repoltreia o calor eterno.


Nas carícias da tua cabeleira reencontro os langores das longas horas passadas sobre um divã, no camarote de um belo navio, acalentadas pelo imperceptível balouçar do porto, entre as jarras de flores e as bilhas refrigerantes.


Na lareira ardente da tua cabeleira respiro o odor do fumo de mistura com o ópio e açúcar; na noite da tua cabeleira vejo resplandecer o infinito do azul tropical; nas margens penugentas da tua cabeleira embriago-me com os perfumes combinados do alcatrão, do almíscar e do óleo de coco.


Deixa-me morder por muito tempo as tuas negras e pesadas tranças. Quando me ponho a mordiscar os teus cabelos elásticos e rebeldes, parece-me que estou a comer recordações.


(De Pequenos poemas em prosa de Baudelaire)





08/072002

Juro que não queria me importar,
Prometo que não irei incomodar,
Sinto que não há nada em que acreditar.
Não culpa minha se só assim sei pensar.

Mas o que fazer?
Jurar, prometer ou sentir?
Acho que é só deixar a vida fluir.

Interior Ismo

Sob o jugo da forma:
conteúdo.
Dentro dela o ser profundo.
Tal qual semente que habita o fruto;
Serás árvore sem raízes,
Terás asas ao invés de folhas,
Te alimentarás de sonhos,
E darás de comer á todos
que de amor tenham fome.

"Palabras para Julia" y para mí

Tú no puedes volver atrás
porque la vida ya te empuja
como un aullido interminable.

Hija mía es mejor vivir
con la alegría de los hombres
que llorar ante el muro ciego.

Te sentirás acorralada
te sentirás perdida o sola
tal vez querrás no haber nacido.

Yo sé muy bien que te dirán
que la vida no tiene objeto
que es un asunto desgraciado.

Entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti como ahora pienso.

La vida es bella, ya verás
como a pesar de los pesares
tendrás amigos, tendrás amor.

Un hombre solo, una mujer
así tomados, de uno en uno
son como polvo, no son nada.

Pero yo cuando te hablo a ti
cuando te escribo estas palabras
pienso también en otra gente.

Tu destino está en los demás
tu futuro es tu propia vida
tu dignidad es la de todos.

Otros esperan que resistas
que les ayude tu alegría
tu canción entre sus canciones.

Entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti
como ahora pienso.

Nunca te entregues ni te apartes
junto al camino, nunca digas
no puedo más y aquí me quedo.

La vida es bella, tú verás
como a pesar de los pesares
tendrás amor, tendrás amigos.

Por lo demás no hay elección
y este mundo tal como es
será todo tu patrimonio.

Perdóname no sé decirte
nada más pero tú comprende
que yo aún estoy en el camino.

Y siempre siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí
pensando en ti como ahora pienso.



José Agustín Goytisolo

Decisión

Tive uma visão: uma velhinha curvada atravessa a rua vagarosamente... sua única companhia é uma bengala de madeira, onde se apoia pra não cair. Mas como?! Se somos seres decaídos, herdeiros de lúcifer que não se contentou com o céu, aquele que ousou ir além com seu orgulho e vaidade.
Alguém avise esta velhinha que a vida é apenas resultado de probalidades que se combinam.
Sou uma probalidade do que É e do que NÃO É, eternamente, ora humana, ora desumana.
O que é humano? Alguém aí pode me explicar?
Decante que sou, desejo mais do que já me pertence.
Não quero só um, quero dois!
Não, pensando bem quero três!
Ou nada, quero outra coisa, isso... aquilo... aquele outro.
Já não há nada a ser feito, a velhinha já alcançou seu objeitvo: sobreviver a mais um passo.