Desventuras em série


Este texto escrevi depois de uma pequena viagem de quatro dias que fiz a terra Lusa o ano passado. Antes do texto gostaria de deixaruma dica de um filme brasileiro, "Terra Estrangeira", de Walter Salles, filmado em Portugal e no blog do Tiago tem uma pequena resenha pra quem quiser saber detalhes (reflexoes acerca de). Vejam!


Impressoes dispersas de Portugal

Portugal é muito distinto do que eu imaginava! Porto foi a primeira cidade que paramos e como toda cidade hoje em dia, tem seu lado antigo ocupado pelos "marginais" (tipo uma periferia) e o lado moderno com prédios e lojas caras. Eu é claro, curti mais o lado marginal, por toda uma nostalgia, cumplicidade.
A primeira coisa que comi em Porto: bolinho de bacalhau, que delícia! Havia um cheiro de sardinha por toda cidade, isto pq estao em festas de Sao Joao, onde o prtao típico é saridnha assada com arroz! esto nao deu pra comer, a grana estava limitada.E como nao podia faltar, fiz um percurso por duas adegas de vnho do Porto, e realmente pude comprovar que tudo o que dissem sobre o vinho do Porto é verdade: simplesmente divino! Nunca provei um vinho tao bom e penso que todas as pessoas deveriam uma vez na vida tomar um cálice dessa bebida dos deuses! rsrsrsrs
Já em Lisboa a estadia foi um pouco mais longa, dois dias. Cidade mais grande e portanto a mim, menos agradável, essa coisa de metrô, onubus, muita gente com pressa. Mas também, teve passeio de bondes pelas ruas estreitas da antiga Lisboa imperial . Pela noite tem o Bairro Alto, que é um lugar especificamente de jovens que vao se embebedar pelos diversos bares "moderninhos" e caros! Um cara que oferece xaxiche (como se escreve isso?), muitos estrageiros, mendigos e caipirinha por 2,50 €, que a este preço está barata!!!
Conheci um belga que estava na mesma pensao que eu e para minha supresa, falava portugues. Contou me que esteve seis meses de férias no Brasil e segundo ele, depois que chegou no Brasil nao queria mais voltar! Falava um portugues abrasileirado, incluso com as girias! E como eu, achou muito estranho o sotaque dos portugueses que exigia uma certa concentraçao pra entender o que diziam.
Muitos pontos Lisboa me lembrou Sao Paulo! Pela cidade se vê muitos cabo-verdianos, angolanos e é claro, brasileiros! É uma cidade multi cultural, suja, cheia de grafites, turistas. Me pergunto o que restou da majestade colonial além de antigas fachadas encardidas de prédios estreitos que agora sao ocupados por vagabundos, prostitutas ou apenas por imigrantes sem rumo, ou portugueses sem recursos. Pelas ruas cartazes que anunciavem cncertos musicais de Maria Bethania, Ney Matogrosso e espetáculo tetral com Marília Pêra.
Por último dei uma passada em Sintra, um pequeno povoado situado em uma serra a 30 kms de Lisboa. Muito distinto da capital lusa, um lugar onde eu desejaria desfrutar meus ultimos anos de velhice, pela sua tranquilidade e beleza. Voltei pra Lisboa, descansei para depois voltar ao Bairro Alto em despedida a cidade.
Já estou de volta em Santiago. De Portugal só pude trazer comigo uma aquarela que comprei de um artista do bairro de Alfama em Lisboa e uma garrafa média de vinho do Porto que tomarei com os poucos e inesquecíveis amigos que consegui encontrar nesta pequena e sublime duraçao em Santiago. Além de lembranças o que mais permance?

Caio Fernando Abreu


Deixo aqui um fragmento que levo comigo para todos os cantos que ando! Apesar de que ainda nao li nenhum livro completo deste existencialista tropical, recomendo: leiam Caio Fernando Abreu! Tomei conhecimento dele através de amigos que leram "Morangos Mofados". Até que um dia fui ver uma peça de teatro baseada nas obras de Caio. Fui com a Fran, minha amiga querida. Ainda nao esqueci um momento de peça que tudo me pareceu tao real... bem, vamos ao que importa! Com vcs, "O Momento Presente" (algo importa mais que isso?)


"Tome-o nas mãos com muito cuidado. Ele pode quebrar; o momento presente. Como um bebê então, a quem se troca as fraldas, depois de tomá-lo nas mãos, desembrulhe-o com muito cuidado também. Olhe devagar para ele. (...) contemple o momento presente como um parente, um amigo antigo, tão antigo que não há risco algum nessa presença, quieta. Contemple o momento presente dentro do silêncio absoluto. (...) Mas não sinta solidão, não sinta nada: vc só tem olhos que olham o momento presente, esteja ele - ou vc - onde estivar; E não dói, não há nada que provoque dor nesse olhar:
Não há memória, também. Vc nunca o viu antes. Tenha a forma que tiver ele só está ali, á sua frente, como um punhado de argila à espera de que vc o tome nas mãos para dar-lhe uma forma qualquer: E se vc não o fizer, ele se fará por si mesmo, o momento presente. Não chore sobre ele. No máximo um suspiro. Não o agarre com voracidade, cuidado, ele pode quebrar: Não espere nada dele. Ele nada lhe dará, o momento presente. (...) Deixe que ele respire, como uma coisa viva. Respire vc também, como essa coisa viva que vc é. Respire, respire. Conte até dez, até vinte talvez. Daqui a pouco ele vai se transformar em outra coisa, o momento presente. Vc não sabe, eu não sei, ele não sabe: os momentos presentes não têm o controle sobre si mesmos. Se o telefone tocar; atenda. Se a campainha chamar; abra a porta. Quando estiver desocupado outra vez, procure-o novamente com os olhos. Ele já não estará lá. Haverá outro em seu lugar. Então, tome-o nas mãos. Ele pode quebrar; o momento presente. Como um bebê, então, a quem se troca às fraldas, depois de tomá-lo nas mãos, desembrulhe-o com muito cuidado. Olhe devagar para ele. Experimente então dizer ‘eu te amo’. Ou qualquer coisa assim, para ninguém”.
Estava no trabalho e como sempre entediada. Através da janela gradeada ela olhou para a rua. Uma giola pendurada no poste chamou sua atenção. Era uma gaiola pequena (apesar de que qualquer gaiola sempre será pequena pra quem está dentro dela) e dentro havia dois passarinhos.

Quis saber o que os pássaros pudessem estar sentindo. Será que estavam sentindo-se aprisionados como ela? Talvez a mesma agonia, sofrendo pela imensa vonatde de voar para bem longe...mas estavam, os três, aprisionados.

Ela iamginou que, se eles pudessem raciocinar como humanos o melhor seria se conformarem com a situação e aproveitar o alpiste e a água que religiosamente nunca lhes faltavam. Além do mais, eles possuíam a vantagem de estarem a salvos de predadores!

Contudo, ela, na sua gaiola, não encontrava razões e nem motivos pra se conformar, além de não estar a salva de qualquer risco mínimo que pudesse surgir.

Mas, e ela? Ela não era pássaro, no entanto estava tão engaiolada quanto eles naquela condição, naquele trabalho, naquela vida medíocre. E pior: estava sozinha, não tinha nem sequer um companheiro ou companheira.

Ela considerou a possibilidade de que, por piedade ou esquecimento, alguém deixasse a portinhola aberta. Então sentiu-se mais triste e desesperada, pois os pássaros não consiguiriam mais voar, pois suas asas estavam atrofiadas.

Continuou refletindo... refletindo sobre sua situação até o dia em que descobriu que sua mente* era, por destino ou casualidade, seu mais cruel cativeiro.


* Na versao antiga havia escrito corpo! Agora percebo o grande equivoco em haver pensado que o corpo poderia ser uma prisao. Posso estar novamente equivocada, mas acho que na realidade a mente é que comanda o corpo.

  • Este texto escrevi um dia em que estava angustiada no trabalho. Naquela época havia trancada o faculdade e voltei pra SP. Minha cabeça estava completamente confusa, nao sabia onde seguir, o que fazer... enfim, uma crise! Tive muito apoio de amigos e familiares! Gracias a todos!

N´ cio

Os seios que não foram beijados agora arfam no compasso da sua respiração que não é lenta nem acelerada, apenas segue o ritmo exato, dentro... fora. Esses mesmos seios tranqüilos anseiam por lábios quentes e esfomeados, como boca de recém-nascido que está sugando leite pela primeira vez.

Mas nada acontece. Uma pergunta surge neste momento de ócio: pra que tanta carne? Uma carne clara, lisa, macia e jovem. Tudo a caminho do desfalecimento. Mas agora isso não importa, egoisticamente nada lhe importa além do desejo que ela exala. Não exige muito, apenas carícias leves... tão leves que fazem cócegas! Um suspiro no ouvido, dedos nos cabelos.

O sangue que flui não impede o desejo, é um vermelho que incita vida, com um cheiro peculiar de mulher. Esse sangue mancha o lençol, deixa marcas. A fêmea que não se retrai rojando sangue, se dá completamente ao prazer.

Ela mesma se toca, confiante nos seus dedos que mergulham deliciosamente dentro dela, molhados, deslizam sem pudor.. Os dedos são calmos, ternos e experientes, eles não falham.
Os olhos ora se abrem, ora se fecham. Dá vontade de gritar um grito agudo, tão agudo que o ouvido humano é incapaz de captar.

Cada membro do corpo está atento a espera do coito selvagem, bruto. Prazer e dor se misturam. A boca seca enquanto os (pequenos e grandes) lábios se umidecem. Tudo se expande, um pequeno gemido rompe o silêncio, o suor denúncia a força.


Ao fim, aos poucos o rubor da face se desfaz e as batidas do coração se acalmam. Sente com exatidão a dimensão do seu corpo frágil e cansado. Se ajeita na cama feito passarinho no ninho mácio. O cheiro do prazer empregnado em sua pele se espalha no ar.
Ela conhece a cura, quer compartilhá-la, mas a tacharão de louca, maníaca, obssessiva, obscena, desavergonhada. Tudo bem, cada um que procure sua cura!

O sino da igreja trás de volta a realidade, a despertando do sono que se tem acordado. Não toma banho, nem se quer lava as mãos, água só pra beber. Veste as roupas encardidas, prende os cabelos desgrenhados e abre a porta, decidida revelar ao mundo que por detrás daquela aparência tímida há uma fêmea n'ocio.


  • publico aqui outro texto engavetado!

Deus é o granjeiro do mundo

Estes dias em que nao sei o que fazer, mesmo que necessitando buscar um lugar pra morar e um trabalho pra sobreviver, decidi crear um diario virtual para compartir minhas idéias sem fundamento e importancia com quem estiver interessado!

Escrevo desde uma Mansilla, Mas de Noguera, situado na Comunitat Valenciana. Faz um mes que cheguei em Valencia, depois de percorrer muitos caminhos em España. Ainda estou me aclimatando a este lugar. Começamos com o pé direito.

Aqui tem uma granja com vacas, ovelhas, um toro enorme que a principio assusta, mas é muito dócil e chamamos Letur , tem também o filho de Letur chamado Hermes que ainda nao tem um mês de vida. Passado um ano e meio, Hermes será levado a um matodouro, pobrecito. Tem gatos, cachorros, moscas aos milhares, galinhas, patos, aranhas, passáros, borboletas, sapos e pessoas. Estes ultimos sao os animais mais estranhos!
Quando estive na granja ajudando Philip alimentar aos animais, pensei: o mundo é uma granja gigante de Deus! Ele nos alimenta, mas a cambio de que? A vaca nos fornece leite. Me pergunto: e a humanidade, que fornece a Deus?

Sendo bicho de cidade, tudo neste lugar é novo para mim. Despetar com o canto do galo, poder admirar o céu estrelado antes de dormir e fazer pedidos as estrelas cadentes me encanta. Respirar ar puro, beber água da fonte. Sao coisas simples, mas que dao um colorido especial a cada dia que passo aqui.

Faz um mes comecei a treinar equilibrio na corda-bamba. Estou muito melhor, já posso me equilibrar por mais de um minuto com cada pé! Me dá uma sensaçao de liberdade quando estou só com um pé em cima da corda e sinto o vento soprar. Até parece que posso voar. Pouco a pouco estou superando pequenos medos e isso é muito imnportante pra mim. Sempre fui muito medrosa e limitada. Decidi que devo arriscar, nao temer e saltar do precipio sem me preocupar com a queda!

28.07.08