No ócio
No cio
No início
Lendo Clarice:
Eternidade
É não ter idade
Continuidade
Tenho entre minhas pernas uma planta carnívora.
Ela sangra durante cinco dias.
Um inseto vem sugar seu fluído nutritivo.
Ele pareceu se fartar.
A planta se revigorou, está pronta para mais uma ciclo de vida.
Sou insetos que rodopiam lâmpadas envoltas em lustres transparentes.
Iludo-me achando que o calor que me aquece vem diretamente de ti.
Não consigo distinguir a barreira que nos separa, pois giro apaixonadamente a sua volta, para me proteger, apenas.
O foi e o será são transmutações do É.
O É se renova e se desfaz, sendo sempre o mesmo.
Eu sou um corpo em constante martírio, um corpo que não silencia nunca, um corpo que coça, arde, sangra, cheira, cansa, dói, enfim, sou algo que sente e que pensa sobre este sentir.
Há duas coisas que eu sou incapaz de fazer: não pensar e não sentir.
Agora eu senti um leve arrepio no braço esquerdo. Tenho sono e fome.
Ouço o som da chuva e o ruminar do meu estômago vazio que parece um gato preguiçoso.
Sou um dia de sol de verão com nuvens carregadas.
Sou uma indecisão.
Sou um instrumento quieto e desafinado a espera de alguém que venha carinhosamente ajustá-lo, até que uma melodia doce e calma exale de mim.
Sinto um leve arrepio pelo corpo.
Um sussurro ultrapassa a alma.
Uma sensação fluída de gozo. Desejos pelos espaços que há entre nós.
Quando um corpo possui o corpo, a alma se eleva.
Subamos, subamos.