Caio Fernando Abreu


Deixo aqui um fragmento que levo comigo para todos os cantos que ando! Apesar de que ainda nao li nenhum livro completo deste existencialista tropical, recomendo: leiam Caio Fernando Abreu! Tomei conhecimento dele através de amigos que leram "Morangos Mofados". Até que um dia fui ver uma peça de teatro baseada nas obras de Caio. Fui com a Fran, minha amiga querida. Ainda nao esqueci um momento de peça que tudo me pareceu tao real... bem, vamos ao que importa! Com vcs, "O Momento Presente" (algo importa mais que isso?)


"Tome-o nas mãos com muito cuidado. Ele pode quebrar; o momento presente. Como um bebê então, a quem se troca as fraldas, depois de tomá-lo nas mãos, desembrulhe-o com muito cuidado também. Olhe devagar para ele. (...) contemple o momento presente como um parente, um amigo antigo, tão antigo que não há risco algum nessa presença, quieta. Contemple o momento presente dentro do silêncio absoluto. (...) Mas não sinta solidão, não sinta nada: vc só tem olhos que olham o momento presente, esteja ele - ou vc - onde estivar; E não dói, não há nada que provoque dor nesse olhar:
Não há memória, também. Vc nunca o viu antes. Tenha a forma que tiver ele só está ali, á sua frente, como um punhado de argila à espera de que vc o tome nas mãos para dar-lhe uma forma qualquer: E se vc não o fizer, ele se fará por si mesmo, o momento presente. Não chore sobre ele. No máximo um suspiro. Não o agarre com voracidade, cuidado, ele pode quebrar: Não espere nada dele. Ele nada lhe dará, o momento presente. (...) Deixe que ele respire, como uma coisa viva. Respire vc também, como essa coisa viva que vc é. Respire, respire. Conte até dez, até vinte talvez. Daqui a pouco ele vai se transformar em outra coisa, o momento presente. Vc não sabe, eu não sei, ele não sabe: os momentos presentes não têm o controle sobre si mesmos. Se o telefone tocar; atenda. Se a campainha chamar; abra a porta. Quando estiver desocupado outra vez, procure-o novamente com os olhos. Ele já não estará lá. Haverá outro em seu lugar. Então, tome-o nas mãos. Ele pode quebrar; o momento presente. Como um bebê, então, a quem se troca às fraldas, depois de tomá-lo nas mãos, desembrulhe-o com muito cuidado. Olhe devagar para ele. Experimente então dizer ‘eu te amo’. Ou qualquer coisa assim, para ninguém”.

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